E aqui começa a História narrada pelo Álvaro …o Barinho da
minha História
Não me lembro da
mudança para a Rua dos Prazeres. Mas tenho várias lembranças; teria uns quatro
ou cinco anos comprou umas botas de borracha na Casa Alda, onde hoje é o Café
Saura , em frente ao restaurante Ramon. Naquela altura comprava-se as coisas
aos pagamentos porque não havia dinheiro como hoje que se compra a pronto. Ora
eu sempre habituado a andar descalço, ter umas botas novas era rico e andava a mostrar a toda a gente,
e, como era Inverno, fui até ao estaleiro do lado do mestre Jeremias, onde
havia barcos em reparação, e um que estava no rio e tinha uma prancha de
madeira que se chamava carreira onde os barcos deslizam quando são reparados em
terra e em cima dessas grandes traves são lançados à água. Ora o Barinho como
eu era conhecido na altura, lembrou-se na sua inocência sem medo do perigo que
corria, de ir ao dito barco que estava
no rio mostrar as botas às mulheres que estavam a lavar no cais e aflitas
chamavam – me para eu sair dali, e eu depois lá vim, só que a meio escorreguei
naquele sebo que as carreiras têm para os barcos deslizarem melhor, e tive a
noção que ia cair e entrei no rio que ia com muita corrente devido ao inverno,
então as mulheres começaram a gritar e o
Sr. Eurico que era carpinteiro naval correu para o lugar indicado e tirando os
socos atirou-se à água e foi-me apanhar já a entrar debaixo do barco e aí não
haveria salvação possível; eu recordo-me de estar pendurado pelo Sr. Abílio « o
Marinheiro », Pai do Cesário, este, amigo do nosso irmão António e vi muita
gente e se calhar desmaiei, e só me lembro de acordar em casa onde morávamos na
Rua dos Prazeres, num quarto, rodeado dos nossos Pais e Irmãos e todos felizes
por eu acordar, se não fosse esse bom homem em arriscar a sua vida, eu não
teria esta história verdadeira para vos contar, e como «à criança e ao borracho
mete Deus a mão por baixo», ainda não tinha que morrer , porque Deus é que
sabe.
O nosso pai que não era
de ficar sem as coisas, sem pensar duas vezes, vai para o rio, com uma vara de
ir aos polvos, foi ver se apanhava as ricas botas e com sorte apanhou-as, e
pôs - as a secar ao lume , só
que se calhar se descuidou e as botas ficaram todas estragadas, claro
que estas passagens foram-me contadas pelos nossos Pais, e eu fiquei sem as botas
e continuei a andar descalço.» E aqui começa a História narrada pelo Álvaro …o Barinho da
minha História
Não me lembro da
mudança para a Rua dos Prazeres. Mas tenho várias lembranças; teria uns quatro
ou cinco anos comprou umas botas de borracha na Casa Alda, onde hoje é o Café
Saura , em frente ao restaurante Ramon. Naquela altura comprava-se as coisas
aos pagamentos porque não havia dinheiro como hoje que se compra a pronto. Ora
eu sempre habituado a andar descalço, ter umas botas novas era rico e andava a mostrar a toda a gente,
e, como era Inverno, fui até ao estaleiro do lado do mestre Jeremias, onde
havia barcos em reparação, e um que estava no rio e tinha uma prancha de
madeira que se chamava carreira onde os barcos deslizam quando são reparados em
terra e em cima dessas grandes traves são lançados à água. Ora o Barinho como
eu era conhecido na altura, lembrou-se na sua inocência sem medo do perigo que
corria, de ir ao dito barco que estava
no rio mostrar as botas às mulheres que estavam a lavar no cais e aflitas
chamavam – me para eu sair dali, e eu depois lá vim, só que a meio escorreguei
naquele sebo que as carreiras têm para os barcos deslizarem melhor, e tive a
noção que ia cair e entrei no rio que ia com muita corrente devido ao inverno,
então as mulheres começaram a gritar e o
Sr. Eurico que era carpinteiro naval correu para o lugar indicado e tirando os
socos atirou-se à água e foi-me apanhar já a entrar debaixo do barco e aí não
haveria salvação possível; eu recordo-me de estar pendurado pelo Sr. Abílio « o
Marinheiro », Pai do Cesário, este, amigo do nosso irmão António e vi muita
gente e se calhar desmaiei, e só me lembro de acordar em casa onde morávamos na
Rua dos Prazeres, num quarto, rodeado dos nossos Pais e Irmãos e todos felizes
por eu acordar, se não fosse esse bom homem em arriscar a sua vida, eu não
teria esta história verdadeira para vos contar, e como «à criança e ao borracho
mete Deus a mão por baixo», ainda não tinha que morrer , porque Deus é que
sabe.
O nosso pai que não era
de ficar sem as coisas, sem pensar duas vezes, vai para o rio, com uma vara de
ir aos polvos, foi ver se apanhava as ricas botas e com sorte apanhou-as, e